sexta-feira, 28 de março de 2008

Fake Tales of Champ d'Ourie I

O engraxador chamava todas as tardes a si no mesmo banco do Jardim da Parada. O dinheiro que fazia dava para o tabaco e pouco mais. Suspirava e observava os amigos a jogarem à sueca. Não entrava, pois o tabaco era o único vício que podia sustentar.
Enquanto seguia com os olhos a bola que as crianças chutavam de um lado para o outro pensava nos tempos idos em que se sentia na pele de um profissional requisitado, como o amolador ou o cauteleiro.
Agora, sabia que os seus serviços derivavam apenas da pena e da mania que os habitantes de Lisboa têm de manter as tradições. Suspirava outra vez. Arrancava mais um pouco do seu pão com os dentes.
Não via a sua rotina como um fardo.
«Faz-se o que pode...», respondeu a si próprio, enquanto se levantava para se dirigir a casa.

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